Precipitações

Hoje o puto da empresa convidou-me para almoçar com ele. Pareceu-me estranho quando o fez, mas tudo bem, aceitei já que ele costuma escolher bem os restaurantes onde me leva. Conversa de ocasião durante uns minutos onde só faltou perguntar como estão os canários, até que assim que nos serviram o prato principal ele disse sem qualquer sequência lógica na conversa: "estou a pensar pedir a P. em casamento". Acabei de mastigar o que tinha na boca, engoli, e esboçando um sorriso disse-lhe que ele parecia tão apavorado a dizer aquilo que parecia estar a falar de uma doença terminal. Não que eu ache que ele não é pessoa para se casar, mas ele sabe tão bem como eu que nesta altura não quer assumir algo tão sério. Eu tenho para mim que ele está com esta ideia após a última crise que passaram e que ela chegou a falar em terminar o namoro. Não falou mais durante o resto do almoço e lá regressamos à empresa. Ao separarmo-nos cada um para o seu departamento aproximei-me dele e perguntei-lhe ao ouvido (naquela empresa as paredes têm mesmo ouvidos) "e depois de te casares, vais continuar a traí-la comigo?". Olhei-o nos olhos, onde vi a confusão que vai naquela cabeça, e dirigi-me finalmente para o meu posto de trabalho. O pior é que eu estou convencida que se ele realmente pedir a namorada em casamento, nesta altura, ela vai dizer que não.